A regra do estado de exceção / (Enquanto isso, os ricos)
Abstract
A regra do estado de exceção
José D’Assunção Barros
A Boa Classe Média só percebe as ditaduras
Quando lhe invadem as casas
Quando violentam as suas intimidades
Quando lhe pedem documentos com aquela cara
De “tu és ladrão”
A Boa Classe Média só percebe as ditaduras
Quando não lhe deixam sair mais com a sua cor predileta
Quando a fuzilam – primeiro com os olhos –
Por causa de suas opiniões
Também percebe as ditaduras, a Boa Classe Média,
Quando lhe dirigem preconceitos de cor
Apesar dos seus ternos cuidadosamente engomados
Agora, suas mulheres ouvem piadas
E o assédio dos chefes foi liberado.
Seus filhos são preteridos,
quando tentam entrar para certas universidades,
pois estas são destinadas aos de maior patente
A Boa Classe Média só percebe as ditaduras
Quando arrombam a porta de suas casas
Quando mancham de fardas policiais o seu lar
Quando lhe despejam o arrogante arbítrio
Como um balde gelado de água
Quando lhe tiram o emprego sem aviso prévio
Já os pobres, estes mal percebem as ditaduras,
Pois já fazem todas essas coisas com eles
Durante todo o tempo
(Enquanto isso, os ricos)
José D'Assunção Barros
Enquanto isso, os ricos percebem o estado de exceção
Quando não lhes avisam que o dólar irá subir
Com a devida antecedência
Ou quando são gentilmente informados que seu mordomo
Faleceu fuzilado
Porque não tinha carteira de identidade
SOBRE O AUTOR:
José D’Assunção Barros
José D'Assunção Barros é escritor, músico, historiador e professor. É Professor-Associado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em História, e Professor-Permanente do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. É Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Na área de literatura, publicou o livro de contos 'O Avesso do Pau-de-Arara' (1988) e o romance 'Desacordados' (2012).